segunda-feira, 15 de março de 2010

parte um




Está frio. Cada vez mais sinto o gelo nas minhas entranhas, a funcionar como catalisador de passividade. E mal me consigo mover em temanho ror de esforço. Decidi orientar-me no topo do mundo: pirâmide eterna de constante escape. E agora aqui, movido a energia corporal, aqueço-me com gigante cobertor de penas e aquecedor ligado.


Lá fora é de dia. São quatro da manhã e o sol brilha ofuscante, como se pensasse que todos nós deveríamos estar lá fora a usufruir de seus prazeres. Enganava-se porém: a luz era bela e esplendorosa mas pouco motivante. Talvez por causa dos vinte e um graus negativos que aquela noite solarenga proporcionava. Talvez porque naquele topo do mundo, o mais indicado não seria olhar para cima, mas sim para baixo: a ver o resto do mundo sob os nossos pés, qual miradouro imaginário de onerosos fins.
E é aqui que me decidi a vir depois de vida extenuante nos trópicos do movimento constante. O âmago da sociedade dizem. A força que emerge das grandes metrópoles, das suas acções congénitas, da sua expressividade cultural. Aquele amor profundo por uma progressão social pouco condizente com a desonestidade que grassa naquelas terras.


Estarei longe? Ao menos vivo por cima de todos vocês. Bem cá em cima onde calor humano sobrevive nas estepes geladas em nossa volta. E sorrio ao ver a luz das quatro da manhã.