sábado, 22 de outubro de 2011

parte catorze




tanto calor que nem parecia agosto. todas as pessoas com roupa diminuta, exibindo sorrisos mágicos enquanto o sol ia iluminando seus cabelos. tal amigável temperatura era cerne imediato de amenas e alegres discussões sobre quanto tempo teriam aqueles sonhadores quinze graus.

era o único a andar de kispo naquele dia. o único. enquanto me imaginava nas praias perto de mim, mas que agora estão demasiado longe do meu ângulo de visão. a neve que derretia e se tornava estranha argamassa, o gelo que ia amenizando em textura, eram as areias simpáticas em que todos se estendiam, pois tudo o resto era matéria meio putrefacta, embora tudo fosse projecção natural.

nessa não artificialidade todos tomavam banhos de sol. casais discutiam limitações de toalhas. outros jogavam com bolas de plástico enquanto refrescavam os pés na pouco saudável água. era o meu primeiro, e talvez único, dia de genuíno verão. e, tendo em conta o pouco tempo que tinha da cidade, achei que talvez pudessem haver mais dias assim.

houve alguns. mas naquele genuinamente sorri, porque me senti em casa. não por estar naquele universo, onde a ficha com o mundo nunca sequer foi conectada. não por ficar absorto perante a vista resplandecente do sol a doirar o mar. nem sequer por algumas esquimós mais interessantes, que usavam o bikini que nunca podiam ter usado na vida.

sentia-me verdadeiramente perto de casa. o meu coração tinha a minha praia lá dentro, o sol que brilha no mar, as simpáticas donzelas com trajes curtos ou mesmo um mais atrevido topless. tudo isso era meu reflexo existencial daquele domingo. e foi isso que talvez me tenha deixado viver ali durante tanto tempo. porque, apesar de não poder voltar a casa, tinha naquele dia, voltado lá. talvez para sempre.

trilho sonoro: the promise ring - emergency, emergency