segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

parte nove.




È complicado falar de amor. Não é como se as palavras bastassem, ou mesmo os actos que se fazem em prol desse sentimento para tantos puro, belo, eterno, para outros negro, pérfido, mortífero. Simplesmente sente-se algo inexplicável por outrém, desejo incontrolável em querermos estar com determinada pessoa até ao fim de nossos dias pensamos nós. E esse desejo por um quase controle da vida de outro ser humano, pode de toda a forma carcomir nosso pensamento, ideias, personalidade. Não somos nós quando nosso coração bate com mais força. e muito menos somos nós a agir quando parecemos maiores que a vida.

Mais que isso: não o agarramos, não o apalpamos não sabemos o que consegue ser. è appenas uma dor que nos aflige, da qual procuramos cura no consolo em conseguir aquilo a que talvez nos tenhamos proposto: conquistar a mulher amada. Mas... e quando não é esse o propósito? Quando simplesmente nos acontece colocá-la em extremoso pedestal amando, sim amando, mas sofrendo também com a notória percepção que a impossibilidade é o que vemos como certo?

Fugimos. Saímos de onde estamos, do nosso corriqueiro espaço, de nossa familiar congregação e simplesmente deixamos o coração bater até que ele páre. Não morreremos, depressa virá outra mulher a quem nos podemos agarrar enquanto contrabalanço de nossos desesperos. E por mais que digamos que isso não irá acontecer, e que para toda a vida ficaremos racionais e gélidos, acabamos por nos contradizer mais depressa que caímos em paixão. Mais depressa achamos que a melhor mulher é sempre a próxima. a que surge quando desatentos estávamos nós a cortejar outros seres, a imaginar tempos infinitos com elas num qualquer lugar, onde simplesmente o mundo não interessasse mais. E, do nada, quando a chama se apaga, outro fogo começa em local que nunca tínhamos julgado possível.

A menos que fiquemos mesmo gélidos. E sintamos o poder do branco em nossas entranhas, rostos, corações, almas. E cada dia ao acordarmos vejamos crianças a correr pela neve com ingénuos sorrisos, como se o topo do mundo bastasse para a felicidade. Pessoas a quem o frio não afecta porque o sente como se fosse também deles. Ter orgulho na cidade que os viu nascer, ou surgir num qualquer dia que este mundo nos ofereceu. Quando nos sentimos frios o melhor é aquecermo-nos com quem está connosco. Nem que seja num sentido literal, longe das sinuosas metáforas que sempre percorri ao longo da vida.

O amor não é cura para nada. Mas de comichão irritante até doença mortal, tudo nesse patamar pode ser realizável. Assim queira nosso coração palpitante. Assim queira quem morre por ele.


trilho sonoro: mogwai - friend of the night

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